
Há mais de três mil anos entre nós o coentro, principalmente as folhas, é motivo de calorosos debates entre pessoas que o adoram e principalmente as que não o suportam. Na minha adolescência tive os meus primeiros contatos com o dito cujo, nas inesquecíveis viagens para o nordeste. Assim que parávamos para comer, vinha àquela comida chapada de coentro fresco por cima, era de matar, o coentro dominava todo o sabor.
Gostar de coentro é um aprendizado que dificilmente você gosta de cara, e se experimentar ele cru, aí sim é ódio na certa. O ideal é iniciar a degustação com o coentro sendo adicionado no inicio da preparação do prato, ou seja, no refogado, isso mesmo, junto com o azeite a cebola, o alho e ele o nosso velho e conhecido Coriandrum sativum. Para os adiantados podemos utilizar no meio de um ensopado, por exemplo, em uma moqueca onde ele é adicionado no meio do cozimento, em ramos, para antes de servir retira-los. Estas técnicas inserem o coentro como um coadjuvante entre os sabores, conferindo um resultado final especial.
Para os fanáticos não tem jeito, tem que adicioná-lo in natura. Costumo fazer um molho para feijoada com azeite, limão, pimenta socada, salsinha e coentro bem batidos, para adicionar naquele feijão gorduroso. Alem de realçar (ou estragar, para os puritanos) o sabor, o coentro da uma mãozinha para sistema digestivo.
Uma surpresa muito interessante foi adicioná-lo em uma receita de alcachofra que deixo logo abaixo. Antes era feita só com salsinha porem o incremento do coentro deu uma nova vida ao sabor marcante da alcachofra. Segue também um Lambe-lambe de vongole que sem o coentro não tem a mínima graça, aqui também o ardume natural deste pequeno marisco se une ao incrível perfume da erva que já foi utilizada como afrodisíaco na idade media.
Só para deixar bem claro, estas receitas são servidas em casa desde que me conheço por gente, sempre em ocasiões especiais. Um detalhe destes pratos é que é degustado com as mãos, o que confere uma dupla emoção o da sensação do tato e a do palato. Um bom pano de prato ou guardanapo de proporções adequadas pode contribuir para a limpeza das mãos para os não iniciados. Comer com as mão é muito bom! Neste dia fizemos um jantar em família sem talheres, com comidinhas para serem colhidas com as mãos que alem de muito divertido acabam criando um vinculo, uma cumplicidade entre os comensais.
Alcachofra ao “profumo” de coentro

4 alcachofras
½ xícara de chá de salsinha batida.
1 xícara de chá de folhas de coentro batida.
½ xícara de chá de pecorino romano ralado bem fino.
5 dentes de alho bem picados.
Azeite.
Sal.
Pimenta do reino moída na hora.
Misturar a salsinha, o coentro o alho e o azeite até formar uma pasta.
Cortar o talo do fundo e as pontas da alcachofra e desgrudar levemente as folhas.
Com os dedos enfiar a pasta nas cavidades das folhas.
Colocar as alcachofras recheadas em uma caçarola, salgar, adicionar a pimenta do reino moída na hora e uma regada de azeite sobre o miolo de cada uma.
Completar com água até quase cobri-las. Colocar em fogo médio até que água seque.
Para servir colocá-las individualmente em cada prato e regar com os resíduos do cozimento. Acompanha um vinho branco de preferência um Sauvigon Blanc.
Lambe-lambe de vongole

1 kg de vongole vivo
3 tomates maduros sem pele sem semente picada em cubos
1 cebola media bem picada
1 dente de alho picado
1 copo de vinho branco (na foto usei saque, ficou ótimo)
½ xícara de coentro batido
½ xícara de salsinha batida
Azeite
Sal (opcional)
Lavar muito bem os vongoles na casca, e deixá-los em água corrente por uns 10 minutos para terminar a limpeza e retirar eventual areia.
Em uma caçarola refogar em azeite a cebola e o alho adicionar os vongoles e abafar por uns 3 minutos, adicionar o vinho branco, o tomate, o coentro e a salsinha. Aumentar o fogo ao Maximo e cozinhar destampado por uns 5 minutos, mexer bem e servir imediatamente. O mesmo vinho é bem vindo.